segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Festa Funeral

Ao longo das Sagas, fica claro que o melhor modo de prestar homenagens aos mortos era fazendo uma festa funeral em memória; que era importante tanto em vida quanto em morte, e era a festa onde o filho herdava o que era do pai.

O processo da festa foi descrito por Snorri: [1]
Era costume de época, que a festa funeral deveria ser feita em honra ao Rei ou a Jarl que o guardava; e quem sucedia a herança deveria sentar-se no lugar (assento ou banco) anterior ao lugar mais alto até que seu copo se tornasse o Copo de Bragi [2]. Então deveria erguer o copo e fazer um "yow", bebendo em seguida; então deveria prosseguir para o lugar mais alto, assim como seu pai já fazia, tomando para si a herança [3].

É provável que haja uma conexão entre esse assento e o assento mais alto com o Assento do Rei em cima do monte descrito em Heimskringla, quando Hrollaugr se rola para baixo, no assento de Jarl [4][...].

As maiores festas eram, obviamente, as dos Reis, quando seus títulos reais eram largados; [...] na Saga de Laxdæla vemos a descrição de uma festa memorial elaborada pelos filhos de Höskuldr para seu pai, realizado por Olaf que queria que seu pai fosse dignamente honrado. Todos os Grandes Homens foram convidados, a saga registra que haviam mais de 1100 convidados e que na Finlândia nenhuma festa assim tivesse sido feita desde a dos filhos de Hjalti (XXVII), no qual haviam 1400 convidados [5]. Aos convidados importantes de longe eram enviados presentes. A festa poderia ser feita logo após o Howe [6], como descrito na Saga de Gisla [7], ou assim como na festa de Höskuldr. Se não ouvessem filhos para suceder o falecido, seu irmão deveria fazer as honras, isso foi descrito na Saga de Svarfdæla [8].

Mas qual era o motivo por trás disso? A ideia de que o bem estar do morto dependia de uma festa para ele? Sabemos que poemas eram recitados em honra ao morto, como na "famosa" cena da Saga de Egils, em que a filha de Egils pede ao seu pai que escreva um poema para ser recitado na sua festa funeral por seus filhos (LXXVIII). Esses poemas podem ter sido misturados com ideias cristãs durante viagens, influenciados por ideias de imortalidade [9][...].

No caso de pessoas importantes, o funeral, ao menos em tempos mais recentes, não era limitada somente aos homens, como no banquete de Auðr descrito na Saga de Laxdæla (VII), que se transformou em uma festa funeral em sua honra. A princípio, era uma festa para aqueles que deixavam riquesas ou posições para serem herdadas, ou para um filho ou irmão que morreu e não deixou sucessão. Não há registros de casos de pessoas pobres ou sem importância com poucas posses.

Existem também contradições sobre as festas em honra aos mortos, assim como na literatura. Na Islândia, são consideradas como a última marca de respeito aos mortos. Haviam costumes "excêntricos" de colocar os cadáveres em buracos na parede - como no funeral do velho Skallagrimr na Saga de Egils (LVIII) ou Þórólfr na Saga de Eyrbyggja (XXXIII) - para garantir que os mortos não encontrassem o caminho de volta para assombrar. [...] Mas quando citamos um Rei da Noruega do século X, que no seu funeral, foi "direcionado para Valhala", fica clara uma concepção diferente de ideia de "vida-futura", que tenta achar uma conexão com Odin. [...]



[1] Snorri Sturluson - historiador, poeta e político islandês.
[2] Copo de Bragi, no "Paganismo Germânico" seria o chifre de beber usado pelo líder. Um ritual de passagem conhecido como Symbel - Sumbal, em Alemão Antigo.
[3] Ynglinga Saga, XXXVI
[4] Heimskringla: Haralds Saga Hárfagra, VIII
[5] Lndn. III, 9, p. 145
[6] Howe - ritual de sepultamento, onde os corpos de uma ou mais pessoas eram enterrados ou cremados no barro.
[7] Gisla Saga, XIV, XVII, XVIII
[8] Quando Þorsteinn diz que fará a festa de funeral de seu irmão, que morreu no mar, para que o mesmo não sofresse, e O Jarl garantiu que fosse assim.
[9] N. Kershaw. Anglo-Saxon and Norse Poems (Cambridge, 1922), p. 133



Fonte:
THE ROAD TO HEL* - A Study of the Conception of the Dead in Old Norse Literature
By HILDA RODERICK ELLIS M.A., Ph.D.
Greenwood Press - New York, 1968
Páginas 59, 60 e 61.

* Hel é a terra por onde passam todos mortos, independente de onde vêm ou para onde vão.


Traduzido por: WEGWISIR.
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