segunda-feira, 8 de março de 2010

O Livre Arbítrio

O livre arbítrio é uma coisa muito interessante, sendo que o mais interessante disso, é que não tem como ligá-lo a nenhuma religião "enraizada na terrinha prometida" sem que se façam necessárias desculpas idiotas e sem sentido. Por mais que ele seja citado como "liberdade", seja em livros religiosos ou de "ordens secretas/discretas", fica preso a inúmeros paradoxos. Seriam todas as pessoas "adeptas", seguidoras, usuárias ou qualquer porcaria que seja, do livre arbítrio?

Segundo o pensamento judaico-cristão, Deus criou o homem para ser livre, segundo o mesmo pensamento, Ele puniu o homem por ter desobedecido uma ordem, após obedecer um pedido de uma "cobra falante". Com isso surgiu a desculpa da criação do pecado. Segundo o pensamento judaico-cristão, o pecado surgiu para testar o homem, mas segundo o mesmo pensamento Deus é onipotente e onisciente, sabendo até mesmo o destino dos homens. Mas se Deus realmente conhecesse o destino dos homens, não haveria motivo algum para a existência de um teste, ou seja, do pecado. Além disso, sempre houve o "rumor" da vinda de um Messias, que salvaria o povo. Mas salvaria do quê? Afinal, se Deus fosse onipotente, ele mesmo poderia salvar o povo. Ok, dividindo agora a crença e falando do Cristianismo, Deus teria enviado seu único filho, Jesus Cristo, que ao mesmo tempo seria parte d’Ele, digo, da Trindade. Jesus então seria o tal do Messias, o cara que salvaria toda a humanidade. Salvou mesmo? Ah, Ele "criou" a redenção, não é mesmo? Mas então o destino deixou de existir? Deus deixou de ser onisciente e onipotente?
Deus quer prevenir o mal e não consegue?
Então ele não é onipotente.
Consegue mas não quer?
Então ele é malevolente.
Ele quer e ele consegue?
Então porque o mal acontece?
Ele não quer e não consegue?
Então porque chamá-lo de Deus?
Esta é uma citação muito famosa de Epicuro, e muito interessante para se analisar o paradoxo judaico-cristão. Se Deus realmente for onisciente e onipotente, os homens não são livres, indo ainda mais a fundo, ele conhece o destino dos homens, quase todos – senão todos – pecadores, mas coloca então a possibilidade de rezas, confissões, arrependimentos e sacrifícios para homens que já tem seu destino traçado, escrito e assegurado pela onipotência e onisciência divina. De modo simples, todo homem, sem ter conhecimento, tem seu destino traçado e diversos pecados para o testar, podendo se arrepender ou "qualquer porcaria do tipo", mas que no final das contas vai queimar no inferno - coisa que Deus já sabia premeditadamente devido à sua "onipotência e onisciência". Deus então é o cara mais cruel e perverso que já existiu. Depois de tudo isso, como podem os cristãos acharem que são livres, acreditarem em qualquer coisa parecida com o livre arbítrio, ou ainda ouvir de beatas, coroinhas, "papa defuntos", padres, pastores ou coisas do tipo "que Deus criou o homem para ser livre" e achar que é verdade?

Mas não precisamos nos prender só nas crenças originárias da terrinha prometida. Muitos "pagãozinhos" hoje em dia - como já foi falado em diversos outros posts - fazem a mesma coisa. Além de não saberem nada sobre o livre arbítrio, não sabem nada sobre os deuses, ou mais precisamente, sobre o significado dos mesmos. O que antigamente tinha um significado, hoje é usado de forma pervertida para agregar novos valores à população.

Podemos citar que no princípio os deuses germânicos tinham a "missão" de explicar o que a ciência da época não provava, de modo parecido como acontece hoje. Mas diferente de hoje, não era "economicamente rentável", e nesse caso, não existiam missões para converter os demais povos, muito menos sacerdotes. Com isso, o povo também não vivia a mercê desses deuses, muito menos viviam para os mesmos ou com medo. O que regia as pessoas nada mais era que o livre arbítrio.

Mas não podemos considerar o livre arbítrio como algo "anarquista" ou "faça o que quiser sem consequências". As pessoas viviam de acordo com as leis da sociedade, que por sua vez ia de acordo com as leis naturais. Por não haver pensamentos derrotistas, monetariamente egoístas ou submissões com base sacerdotal, as pessoas seguiam um senso comum por si próprias, mas sempre agindo de acordo com a evolução da sociedade em que viviam. Pode-se então perceber que pessoas que não sofrem influência de lideranças religiosas não agregam pensamentos derrotistas de medo, submissão ou misericórdia para com os fisicamente ou moralmente incapacitados e derrotados; do mesmo modo com que não demonstravam egoísmo e inveja os que não sofriam influências de captação sumária e "obrigatória" de recursos. E a prova disso se dá com 2 perguntas: por que os rituais eram celebrados por membros da família? Por que os povos germânicos invadiam terras hostis e nem sempre as colonizavam?

A primeira pergunta fica fácil de responder. Simplesmente não haviam classes sacerdotais. Cada família realizava seus próprios rituais, assim como cada grupo de combatentes, de mercantes, de migrantes ou demais grupos que precisassem realizar um ritual qualquer, seja ele em oferenda a um deus, agradecimento, ou uma simples apresentação de um filho à sociedade.

A segunda fica com uma analogia um pouco mais complicada. Normalmente os povos desbravavam novas terras, mas não as conquistavam, a não ser que a expansão ou migração se fizesse necessária. Normalmente diriam que isso é uma mentira, e citariam como exemplo os saxões dizimando os celtas onde hoje se conhece como Inglaterra. Mas e os que vieram para a América séculos antes dela ser "descoberta"? Seriam eles tão "racistas" que não queriam viver em uma terra cheia de índios? Então por que existem tantas evidências de ruínas de construções que seguiam os mesmos padrões que se encontram na Europa?

Ao contrário dos povos que foram "instruídos" por certos grupos mercantes – normalmente vindos do Oriente Médio – os povos germânicos não buscavam uma forma de "dominar o mundo", ou de converter os demais povos, muito menos de incitar o medo da fúria divina.

Mesmo tendo seus deuses, seus rituais e sua cosmovisão muitas vezes diferenciada, os povos germânicos viviam pela e para a sua própria sociedade, mas de modo livre e independente. A vontade de se mostrar forte e não precisar de ajuda divina era o que mantinha o sentimento de orgulho dos povos germânicos. Mesmo não tendo ligação direta com isso, uma analogia muito interessante se vê no filme "Conan, o Bárbaro", no momento em que Conan reza pra Crom pedindo ajuda, mas deixando claro que seu deus deveria "se ferrar" caso não o ajudasse.

Pode parecer repetitivo. Mas já notaram que a decadência dos povos germânicos – para não usar o termo "pagão" – se deu quando os mesmos passaram a querer conquistar mais terras e mais riquezas? Com isso começaram a ocorrer muitas assimilações culturais, que normalmente acompanhavam muitas conversões para o Cristianismo – para que assim pudessem se casar com as filhas dos reis derrotados e apossarem-se "legalmente" das terras. Desse modo, o livre arbítrio ia desaparecendo rapidamente. Isso pode significar que o "paganismo" – tão citado por pessoas culturalmente influenciadas pelos povos vindos do Oriente Médio – só se mantém vivo quando se mantém afastado das classes sacerdotais monetariamente obcecadas. Ou seja, o livre arbítrio deixa de existir perante a ganância e a submissão religiosa.

O mesmo Epicuro – que tanto falava da paradoxal crença e submissão divina – percebia que as pessoas facilmente se afastavam da verdadeira função da religião e dos deuses. Ele já citava que os deuses não interferiam diretamente na vida das pessoas, talvez até por não terem motivo pra algo tão mesquinho. Para ele, os deuses deveriam ser vistos como exemplos para os homens de uma sociedade homogênea, pois conviviam em perfeita harmonia, independente de suas diferenças – uma vez que os deuses teriam como objetivo manterem-se eternizados e vistos como modelos. Para ele, dores e sofrimentos físicos poderiam ser combatidos sem a intervenção divina, assim como as mazelas da sociedade. Epicuro também citava que as únicas dores incuráveis eram as dores que perturbavam a alma.

Pessoalmente, acredito que o problema se encontra justamente no conceito de alma. A alma por si só não passa de uma prisão, e quando a mesma se encontra doentia, o homem se torna ainda mais preso e dependente de crenças que tiram de vez a sua liberdade – ou que ferem a liberdade alheia.

Mas cultuar divindades regionalistas ou específicas não são de todo ruim, pois isso gera um certo sentimento de orgulho. Desde que esse orgulho não seja extremista e burro, serve para unir pessoas que possuem as mesmas características em um objetivo comum de sobrevivência e manutenção cultural e racial. Mas isso não é tão simples, uma vez que o orgulho burro surge facilmente quando um grupo qualquer resolve difundir a cultura para o meio externo de forma doutrinadora, onde normalmente surgem "sacerdotes" – e funciona mais ou menos como um modo de converter os demais. Grupos assim normalmente acham que estão agindo certo, mas acabam "impondo o livre arbítrio" para as pessoas – o que desclassifica claramente o ato.

Conforme as crenças germânicas, após a morte, as pessoas podiam viver eternamente nos salões de Walhalla quando puras e merecedoras, ou poderiam renascer para outra nova chance. Com isso, as pessoas normalmente mergulhavam nos seus objetivos sem medo e sem a necessidade de "muletas culturais". Pode-se entender, até mesmo em tempos modernos, que uma pessoa não deve temer a morte, uma vez que após a morte ela apenas passa a "viver em outro contexto". Então, do mesmo modo que nossos antepassados, podemos viver livres e em prol de uma sociedade homogênea – mas sem a necessidade de uma segregação física ou dominação alheia de nenhuma natureza.

Se podemos viver de forma plena e livre, por que alguns sentem a necessidade de recorrer a um "suposto ser" que se diz – ou que dizem – ser onisciente e onipotente? Aliás, segundo escrituras, mandamentos ou leis de livros sagrados de diversas religiões que seguem o deus do Oriente Médio, eu não teria nem mesmo como estar escrevendo um texto como esse. Ou pior, para alguns, talvez eu estivesse sendo influenciado por algum ser "maligno" – mas como eu realmente NÃO acredito em cobras falantes...

A frase "aqui se faz, aqui se paga" é a prova de que o livre arbítrio vive no espírito das pessoas de forma inconsciente – e ofuscado pela ingenuidade. O engraçado é que essa frase normalmente é dita pelas mesmas pessoas que dizem "se morreu foi porque Deus quis". Falando em povo germânico, podemos citar como exemplo Childerico, o rei dos Francos e descendente de Merovigian. Childerico com suas conquistas acabou abusando do poder que tinha como rei, e acabou sendo deposto pelo próprio povo sem a necessidade do uso de armas – mesmo sem a existência de uma democracia. Depois de tal acontecimento, Childerico sabendo do que fez – e pagando por seu ato – foi parar na Thuringia. Mas mesmo com seu histórico de abusos, Childerico era peça vital para os Francos, que decidiram "perdoar" seus erros em prol da própria sobrevivência. Childerico então voltou, trazendo aliados e vitórias, e se redimindo pelos erros do passado. Isso prova que a pessoa paga em vida pelas coisas que faz; mas também prova que todos os povos, mesmo livres, precisam de um líder para os guiar - e que esse líder serve para unificar o pensamento das pessoas numa só direção, e não simplesmente para "mandar".

Uma pessoa livre não precisa fazer de tudo, mas sim o necessário.

Agora eu pergunto: Se a Alemanha tivesse ganhado a II Guerra, ela teria dominado o mundo ou somente derrotado os que tentam dominá-lo? A resposta se encontra nos dias atuais...


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