domingo, 10 de janeiro de 2010

Receita: Cyser

O Hidromel, conhecido como Met na Alemanha, Mead nos países de língua inglesa ou Mjöd na Escandinávia, é a bebida fermentada mais antiga conhecida no mundo. Basicamente mel e água fermentado por fungos que se criavam no favo em poços ou tambores tampados. Mas a bebida não ficou somente nisso, com o passar dos tempos, cada povo desenvolveu sua própria receita com seus próprios "tempeiros". Um dos tipos diferentes mais comuns foi o Cyser, que eram feito com a adição de pedaços de maçã, ou suco puro da mesma. A bebida era muito comum entre os povos germânicos que mais tarde foram chamados de "francos", ou seja, oeste da Alemanha e boa parte da França.

Diferente do Hidromel, seja seco ou suave, o Cyser é azedo - mais ou menos, conforme a quantidade de maçã colocada - e dá uma sensação de ser mais forte. Seu aroma é facilmente indentificável, o cheiro doce do mel prevalece, mas nota-se facilmente o cheiro da maçã. No paladar a mudança é maior, pois mesmo com o gosto do mel, prevalece um gosto mais ácido - junto com aquele velho conhecido "soco na garganta".

De aparência não difere muito do Hidromel, é um pouco turvo e tem uma cor que lembra um ambar levemente dourado (de amarelo para dourado, assim dizendo). Depois de pronto e maturado não deve apresentar "espuma" ou "bolhas".

Depois de maturado e envelhecido, se torna uma bebida mais "refinada", chega a lembrar até um vinho branco seco, embora de modo diferente. É uma bebida forte, não agrada qualquer tipo de pessoa.

De acordo com BJCP Style Guidelines 2008 - um livro para certificação de juizes de competições de brassagens - lembra um pouco o gosto do Calvados - uma bebida destilada, feita com suco de maçã no norte da França, e lógico, com nome protegido, ou seja, que só pode ser feito no norte da França.

Bom, se fosse para seguir as antigas tradições - o que seria o correto - deveríamos fermentar em barris ou baldes de madeira, preferencialmente lacrados por piche, maturar em jarros metálicos ou de cerâmica e usar o fermento do próprio favo ou do pau de mexer mosto (longa história). Mas isso requer uma certa experiência no trato com bebidas. Vamos então usar um modo mais prático, pelo menos até que se aprenda o processo básico.

Agora vamos ao que interessa: A Receita.

Ingredientes:
- 20L de água (de preferência mineral)
- de 2 a 3 Kg de mel puro
- 1 ou 2 maçãs verdes grandes
- fermento

Antes do preparo, gostaria de falar sobre o fermento. Existem 2 tipos de fermentos que podem ser usados aqui. Ambos funcionam, mas o gosto muda um pouco. O certo seria usar fermento criado do próprio favo de mel, mas isso demora demais, fazendo com que a fermentação dure muito tempo, e antes disso, necessitando que se crie um pioneiro - mas isso tratarei em tempos futuros. Aqui nessa receita recomendo a usar fermento comum de pão - Saccharomyces cerevisiae. Um exemplo bem famoso e encontrado em qualquer mercadinho é o fermento biológico Fleischmann.

Preparo:
- Coloque para ferver uns 4 ou 5 litros de água.
- Pouco antes da fervura, adicione todo o mel e mexa com uma colher de pau até que se dilua. Isso leva entre 3 e 5 minutos.
- Desligue e deixe esfriar tampado (senão virão muitas abelhas). Lave bem todo o material usado, pelo mensmo motivo.
- Depois de frio, nota-se que há uma espuma branca, que deve ser totalmente tirada.
- Coloque essa mistura no fermentador, e misture com mais uns 10 litros de água.
- Certifique-se de que está na temperatuda ambiente, então coloque o fermento. Pouco, algo como uma colherzinha de café. Misture bem.
- Corte a(s) maçã(s) em cubos e jogue na mistura.
- Lacre bem, para que não haja intercâmbio com o ambiente.
- Cubra tudo com um pano escuro, ou um saco preto. Ou deixe em um lugar que não haja contato com a luz. Deixe fermentar.

Fermentação:
- Não existe um tempo exato de fermentação, mas normalmente dura uns 90 dias.
- O fermento irá se multiplicar na primeira semana.
- Nos primeiros dias o fermento estará em cima da mistura, e aos poucos vai baixando para o fundo, deixando a bebida extremamente turva nesse período.
- A bebida vai ficando translúcida conforme a fermentação vai chegando ao fim.
- Durante esse tempo é bom que sejam tiradas pequenas amostras para prova. Não tenha medo, ela pode ser bebida mesmo não estando pronta.
- Após o término da fermentação, a bebida deve ser decantada, para que diminua ao máximo a quantidade de fermento. Após isso, deverá maturar.

Maturação:
- Divida a bebida fermentada em garrafas ou garrafões de vidro, novamente cuidando para que não sejam enchidas até a boca.
- Deixe descançar por 1 ou 2 semanas.
- Caso haja depósito de materiais (fermentos ou impurezasa) no fundo das garrafas, decante mais uma vez.

Pronto. Já pode ser bebida. Mas como qualquer vinho, quanto mais tempo maturando, mais "fina" fica. O gosto muda drasticamente com o passar de 2 ou 3 meses de maturação, e mesmo sendo forte, ela fica mais suave - quem entende de vinhos ou whisky sabe o que quero dizer.

Cuidados:
- Para a cuba de fermentação, no caso de um garrafão, use o tipo PET (transparente, e meio "molenga" quando cheio), pois o PP ou PVC (fosco) é microscopicamente poroso e propócio a contaminação.
- Jamais use água tratada (principalmente da rede, pois possui cloro, fluor e demais componentes químicos que matarão a levedura)
- Certifique-se que a água seja mesmo minral, pois existem muitas empresas que comercializam água tratada em garrafões de 10 e 20 litros.
- Dê preferência para águas minerais com um PH mais neutro
- Se for usar água de nascentes, ferva toda ela, além de se certificar que é uma nascente limpa e sem muito contato com animais maiores como cachorros, gatos, vacas e pessoas.
- Não aconselho o uso de água de poços, mas no caso do seu uso, ferva e depois dacante.
- Não encha a cuba de fermentação acima de 3/4 dos recipiente, sob risco de vazamento, e com isso a contaminação, ou até mesmo de explosão em casos mais extremos.

Para fazer a cuba de fermentação:
- Pegue um garrafão de água.
- Faça um pequeno furo na tampa e coloque uma mangueira de aquário que deve ficar dentro do garrafão e sem contato com o líquido.
- A outra ponta da mangueira deve ficar dentro de um copo com álcool. Isso servira para que, sem contato com o ar, seja liberado o gás da fermentação, evitando assim vazamentos e possíveis explosões.
- Isole a mangueira e a tampa com fita ou massa.

A seguir, uma imagem de como fazer a cuba, e 2 fotos da bebida pronta.




























É só. Boa bebida e boa ressaca...

Pomeranos

Como essa semana se inicia a Festa Pomerana - uma das poucas festas que ainda mantém alguma tradição e não está voltada somente para trazer turistas beberrões e ferristas de outros estados - decidimos falar um pouco do povo pomerano. Essa é a festa mais alemã da região. Espera aí, alemã ou pomerana?

Ao contrário do que muitos pensam, pomeranos não são bem, digamos, alemães. No Brasil são chamados de alemães por serem parecidos etnicamente e culturalmente com alemães, por terem um idioma germânico, e por agirem também de modo semelhante no trato social, sua arquitetura também é semelhante. Além dessas semelhanças, os pomeranos foram expulsos da Polônia ao fim da II Guerra de forma desumana, o que ajudou um pouco no pensamento de que os pomeranos são alemães - até porque, eles utilizavam cidadania alemã por aqui. Outro fator é a ignorância comum dos "países do novo mundo", que acham que todo alemão é loiro e todo loiro é alemão; e como os pomeranos são tipicamente loiros e muito brancos...

Do ponto de vista genético, os pomeranos são aparentados com os poloneses. Os Wendes, povo nômade oriundo do lado oriental, ocuparam a região histórica da Pomerânia ao longo da costa do Mar Báltico entre os rios Oder e Vístula desde o século 6 dC. Os poloneses os ameaçavam constantemente, pois queriam parte da Pomerânia que lhes daria o acesso ao mar. Isso durou até meados do Século XXI, quando os povos germânicos estavam em crescente expansão e coemçaram a se espalhar pela região da Pomerânia. Mesmo sendo eslavos, os pomeranos foram os maiores inimigos dos poloneses, e para garantir seu território e fazer frente aos poloneses, os pomeranos "se entregaram" pacificamente aos povos germânicos, que estavam mais desenvolvidos na agricultura e na guerra, e com isso foram muito influenciados pelos mesmos. Acredita-se que o idioma pomerano, Pommerisch, foi fortemente influenciado pelo alemão, Plattdeutsch.

Com aproximadamente 900 anos de convivência, e certeiros casamentos entre pomeranos e alemães, a maioria dos pomeranos puros ainda conseguiram se manter até os dias de hoje, uma vez que podemos notar que os pomeranos tem traços muito mais bem definidos que os alemães - geralmente são bem mais brancos, são de maioria loira, e embora tenham estaturas parecidas, são mais facilmente reconhecíveis do que os alemães em si.

Como faziam parte do Reino da Prussia, ficaram de vez conhecidos como alemães, mesmo depois quando grande parte do seu território foi anexado à Polônia. Com isso, ao fim da II Guerra a região da Pomerânia, praticamente destruida, foi dividida, sendo que uma pequena parte ficasse com a Alemanha Oriental, e a maior parte com a Polônia. Os poloneses resolveram expulsar os pomeranos do "seu território" de modo cruel, tomando casas e tudo que podiam, fanzendo com que muitos pomeranos fugissem somente com a roupa do corpo e algumas bugigangas. Com isso muitos se instalassem na Alemanha Ocidental, outros procuraram abrigo em colônias germânicas pelo mundo - como Brasil e EUA.

Quando atracaram no Brasil, em meados do Século XIX, assim como os alemães, os pomeranos tiveram os mesmo problemas de adaptação, como sobreviver com carne de pequenas caças, feijão e aipim, até que voltassem a cultivar suas batatas e seu gado, o que demorou muitos anos, já que precisavam pagar as terras que lhes foram cedidas para colonizar, abrir ruas e afastar os índios - no fim, assim como os alemães, também foram enganados, perderam terras e continuavam pobres, mesmo depois de tanto trabalho árduo. Junto com esses problemas, as diferenças entre os católicos e luteranos causaram diversos conflitos e dividiram colônias.

Em alguns lugares, ou algumas famílias, existem certas rixas entre alemães e pomeranos. A maioria delas provenientes de preconceitos que envolvem dinheiro, principalmente aqui no Sul, onde os alemães já se encontravam "fixados" bem antes dos primeiros imigrantes pomeranos, e com isso já possuiam um certo capital. Outro preconceito seria mais cultural, pois os alemães eram um pouco mais instruídos - como exemplo podemos citar que não existe uma grafia oficial do idioma pomerano; e quando isso acontece, normalmente só os pomeranos conseguem ler, mesmo os idiomas sendo rasoavelmente semelhantes quando falados.

De qualquer modo, com culturas muito parecidas, não houveram tantas divisões para que os povos não se entendessem. Em Pomerode, que fica na região de Blumenau - e que na época era uma colônia exclusivamente alemã - deu-se uma certa mistura e pode-se ver que o idioma que predominava entre as famílias era o Plattdeutsch. Creio que devido a isso os pomerodenses sejam considerados tipicamente mais como alemães, mesmo que não geneticamente puros, mas culturalmente assimilados.

A própria Festa Pomerana, de Pomerode, em si, traz muito mais eventos baseados na cultura colonial germânica do que pomerana. Nesse caso, acho que pode ser chamada de "a festa mais alemã do Brasil", assim como afirmam que sua cidade é "a cidade mais alemã do Brasil". Felizmente a Festa Pomerana presa, embora não totalmente, muito mais os bons costumes e a cultura germânica, num ambiente onde não vemos música eletrônica, sertaneja, trilhas sonoras de filmes homossexuais ou "pagodes", não vemos abusos do povo, não vemos sacanagem e até os políciais são alegres por, normalmente, não se incomodarem com os participantes da festa. Esperamos que seja sempre assim, já que a Oktoberfest - até mesmo a de Blumenau, que "se esforça" para manter os costumes - está deixando de ser uma festa germânica.

De qualquer modo, sejam pomeranos ou alemães, ajudaram não só a criar a região, como desenvolveram e consolidaram a mesma. E com isso, são dignos não só de reconhecimento, como também de admiração.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

A Alemanha no Sec. XIX

A Alemanha, com o domínio dos romanos que atingiu estados alemães, procurava, através da sua confederação, auto afirmar-se no cenário europeu. Opôs-se ao projeto expansionista do Império Romano no mundo, garantindo a sua autonomia. Como nação livre, desenvolveu, muitas vezes, uma hegemonia política e territorial, garantindo espaço aos alemães. No início do século XIX, derrotadas as intenções protecionistas de Napoleão, faltava à Prússia derrotar o ministro Müternich, então ministro austríaco, que coordenava a Confederação Germânica, criada em 1815 e mantinha os alemães divididos.

Na Prússia, os Junkers (denominação que se dava aos grandes proprietários nobres) eram contrários à unificação alemã. A Confederação Germânica era uma inspiração austríaca e era formada de 39 estados soberanos, representados na Dieta de Frankfurt, porém sem força política. De outra forma, a Prússia assumia princípios claramente absolutistas. Apenas os estados sulinos da Alemanha assumiram em suas constituições idéias conservadoras francesas. Já a Prússia, pela sua visão mais liberal, experimentava um palpável crescimento econômico. A própria união aduaneira, criada nesta época, veio contribuir para lançar as bases da unidade econômica, das quais se excluía a Áustria. Em 1840, coroava-se Frederico Guilherme IV, que apoiava a unificação, oferecendo novo talento ao liberalismo, porém de pouca duração, uma vez que o próprio rei alia-se à aristocracia alemã, deixando ao Landtagpapel de mera assembléia consultiva.

A partir de 1847 iniciam-se constantes agitações republicanas e socialistas, provocadas pela revolução industrial, uma vez que as máquinas substituíam, lentamente, o trabalho braçal. Nestas perturbações questionava-se o desemprego, a redução de salários e a carestia provocados pela nova mentalidade capitalista.

Em 1848, Karl Marx publica o seu famoso Manifesto Comunista. Nele Marx alerta os trabalhadores da exploração capitalista. Conclama os alemães a se manterem unidos juntamente á pequena burguesia para, conjuntamente, destruírem o absolutismo e os restos feudais ainda existentes na Europa. Nesse ano, forças reacionárias socialistas de Paris expandiram-se pela Prússia. Opunham-se e lutavam contra o domínio dos Junkers, exigindo a implantação do parlamentarismo. Os ânimos acirravam-se a tal ponto de o povo erguer barricadas contra o exército. Com o objetivo de desarmar os ânimos exaltados, o rei prometeu uma constituição elaborada pela Assembléia eleita por voto universal e uma nova Alemanha liberal. Porém, em 1848, o próprio rei dissolvia a Assembléia e restaurava, parcialmente, o absolutismo contestado pelo proletariado e pela pequena burguesia. Controlava-se o legislativo e se classificava a população pelo seu poder econômico. Em 1848, Frederico reprimiu uma rebelião popular. Recusando a coroa de imperador, dissolvendo a Assembléia. Chega 1850 e encontramos uma Alemanha dividida em dois grandes eixos: o prussiano e o austríaco. Desencadeiam-se, nestes territórios, amplas perseguições contra o nacionalismo alemão. O grande estadista da unificação alemã viria a ser Otto von Bismarck. Afastou a burguesia da política e associou os donos do poder econômico aos Junkers. Desta forma conseguiu transformar a década de 1850 a 1860 num grande período de real desenvolvimento econômico.

Na Silésia e no Ruhr surgiram os primeiros grandes conglomerados empresariais. A uniãoaduaneira estendeu-se até Hannover. Otto von Bismarck tornou-se, como primeiro-ministro, o homem forte da Alemanha. Entendia que as mudanças necessárias na Alemanha deviam ser implantadas pela força militar e não com discursos e decisões supérfluos.

Reorganizou o exército prussiano e enfrentou o parlamento com a ditadura. Neutralizou Napoleão III e o Czar, fez frente à Áustria, vencendo-a em relação ao Zollverein. Declarou guerra à Áustria, derrotando-a em 1866. Criou a Federação Alemã do Norte, liderada pela Prússia e ligada ao Sul da Alemanha. Como o Sul da Alemanha possuía maioria católica e o norte, maioria evangélica, o Sul não se conformava com o domínio da maioria protestante. Com o objetivo de irmanar as duas Alemanhas, Bismarck declarou guerra contra a França. A estratégia alcançou seus objetivos. A guerra franco-prussiana (1870-1871), decisivamente, trouxe a unificação e a convivência pacífica entre protestantes e católicos. Em 1871, Guilherme I foi coroado, em Vesalhes, Imperador da Alemanha. Passou a dominar a maior parte do Vale do Reno. Grande vitória. Transformou a Alemanha em Estado Federal (Bundesstaat), formado por 26 estados soberanos. Com a nova organização política que se passou a desenvolver, os três últimos decênios do século XIX, a Alemanha experimentou um virtual crescimento econômico. Expandiram-se as estradas de ferro. Aconteceu a unificação de bancos, havendo maior controle financeiro e palpável aumento das receitas. Cresceu a indústria carbonífera, entre tantos outros. Esquecia-se, porém, uma justa reforma agrária e distribuição de renda. Os grandes proprietários possuíam a maior parte das terras que permaneciam improdutivas, enquanto dois milhões de pequenos agricultores, com dificuldades, sobreviviam nas diminutas áreas que cultivavam, muitas vezes insuficientes para o próprio sustento. Continuava a exploração sobre o homem do campo e o operário, que recebiam baixa remuneração e sem garantias. Tudo isso gerava novas crises e fome. Constantes eram as agitações operárias, normalmente acompanhadas de ideologias socialistas, como alternativas para dias melhores, de maior justiça social. Enquanto se esquecia do proletariado, o governo de Guilherme II completava (1871 – 1914) a unificação política interna da Alemanha, ensejando uma política de expansionismo imperialista que, no século seguinte, conduziria o país à catastrófica Primeira Grande Guerra Mundial.

Historicamente, a Alemanha era um conjunto de estados em constante convulsão sócio-política no século XIX, século da emigração de muitos alemães para as novas terras. Evidentemente, os acontecimentos vividos na Alemanha eram amargos e doloridos, todavia, contribuíram para consolidar a grande nação alemã, unificada, forte e rica de hoje. Este intróito histórico julgamos necessário para compreender um pouco melhor as causas das imigrações alemãs. Muitos alemães não suportavam as conseqüências desse processo de transformação. De outro lado, o espírito empreendedor de muitos alemães, extrapolando o próprio momento histórico, conduzia centenas de cidadãos conscientes de sua responsabilidade social e, sobretudo, familiar para o além-mar. Colônias do além-mar, ofuscavam com promessas de glória e cativavam os emigrantes europeus, uma vez que a pátria européia, tão tumultuada e massacrada, não oferecia perspectivas de estabilidade político-social e econômica, nem garantias sólidas para a construção do futuro do cidadão e de sua descendência. Aqui estariam distantes do turbilhão de éias convulsivas de toda a ordem que gravitavam na atmosfera européia. Aceitar o aceno do Imperador da Colônia Portuguesa, sem dúvida, seria um bom alvitre. As propagandas alvissareiras sobre o Brasil eram cativantes. Era preciso conferir “in loco’.

Créditos ao camarada Lohmann, que enviou esse texto a um bom tempo atrás...

sábado, 2 de janeiro de 2010

Lebensessenz

Hoje, para abrir o ano, teremos uma matéria diferente. Uma espécia de "auto-entrevista" com N.Schner conhecido por inúmeros projetos, entre eles Valium, Hyperborean, Ecce Hommo e também por outro projeto, que é o alvo dessa matéria. Como a matéria é um pouco extensa, por motivos de estética, postarei Somente algumas partes da mesma aqui na tela principal do blog, a matéria completa pode ser encontrada no "aqui no link" - aconselho que todos leiam a matéria completa, pois é extremamente interessante. No arquivo original, além do texto completo, podemos ver as capas de cada trabalho lançado. Com a palavra agora, N.Schner.

Meu amigo Lohmann fez-me um convite muito especial: elaborar perguntas que eu mesmo pudesse responder, acerca do projeto Lebensessenz. Tomado por outras atividades, levei certo tempo para que, enfim, durante uma viagem, eu desse início a algo que eu conseguisse expressar melhor a minha fala: um texto a respeito.

Muitas vezes somos tomados pelo impulso de criar algo, sem que estejamos a desejar no entanto, dar continuidade a essa criação. Existem momentos em que nós nos queremos servir da arte apenas como um refúgio temporário, instantâneo. Assim ocorreu comigo.

No inverno de 2003, em uma noite, eu improvisava notas em um teclado que havia ganhado durante a infância. Gravava, naquele instante, minha primeira demo. Não era algo que eu pretendia dar continuidade. Era apenas a expressão de um sentimento, em uma noite de solidão. Assim, chamei o projeto de Lebensessenz, pois era aquela composição a vida de um momento meu – parte de uma essência de vida. Criava o meu primeiro trabalho, de nome "Einsamkeit, Hass und Dunkelheit sind meine Lebensessenz" (Solidão, ódio e escuridão são a essência da minha vida). Eram estes os componentes dos meus dezessete anos de idade, quando eu dava os meus primeiros passos com a música. [...]

Um ano depois, eu decidia gravar meu próximo trabalho - o primeiro em piano. Inspirado por dias desolados, acolhia-me as leituras a respeito da Antártica, o continente gelado. Em uma noite, gravei quatro músicas. Sem computador, nem contando com quaisquer outros recursos, registrei-as através de uma câmera de vídeo colocada sobre o piano. Todas foram praticamente compostas e gravadas ao mesmo tempo, em momentos de inspiração. Este trabalho levou o nome de "Terra Nullis" ou "Terra de ninguém" em latim.

Ainda em 2004, eu gravava um outro trabalho: "Wenn der Wald zum Traum wird" (Quando a floresta se transfigura em sonho), com uma única música que ultrapassa os 20 minutos. Foi feita com os mesmos recursos parcos. [...] No mesmo ano, outras composições foram gravadas sob o mesmo método, mas, por novos problemas com fitas, todas foram perdidas.

Desde então, o projeto passou a ser composto exclusivamente com o piano que, para minha sorte, me era possível ter em casa. Cabe aqui fazer um pequeno retrocesso. Quando pequeno, recebi algumas poucas lições de piano. Eu as aprendi com o meu pai. [...] Mas eu, naquela época, não desejava tocar ou aprender qualquer instrumento. Tinha preferência por jogos eletrônicos ou quaisquer outras distrações. [...]

Em uma noite (o leitor irá notar que, em grande parte, minhas composições nascem de momentos noturnos), no ano de 2005, eu dava início a um novo trabalho. [...] Agora, fazia-o com o uso de um computador. "Der Abend des Abschieds" (A noite da despedida). Como pano de fundo, saudades, paixões platônicas e a junção de dois belos poemas: "A noite", de Joseph Eichendorff, e "Despedida" de Emmanuel Geibel. [...]

Segui adiante. O piano passava a ser o instrumento da minha expressão. No ano próximo, gravava o meu "Le besoin perpetuel" (A carência incessante). Embora eu não concorde, ainda ouço algumas pessoas dizerem ser ele o meu melhor trabalho. [...] Trata-se de um trabalho obscuro e, de certo modo, inclinado para a solidão.

Na época, nascem os primeiros rabiscos de um romance que eu viria a escrever, do qual, hoje, tenho apenas fragmentos, pois sua única cópia foi entregue a uma pessoa em especial. Ainda em 2006, era lançado "Das Drama der Einsamkeit" (O drama da solidão). [...] Com sorte, me foi possível ser lançado no formato cassete, através do selo After Many Funerals, da Bulgária. Pela amplitude da distribuição feita, o projeto passou a ser mais conhecido. O lançamento deste trabalho foi um marco na história do projeto.

Em 2007, duas grandes obras foram compostas e lançadas: "Die Räuber" (Os bandoleiros) e "Die letzten Momente von Werther" (Os últimos momentos de Werther. A primeira [...] referente a determinados momentos da grandiosa obra de Friedrich von Schiller, que leva o mesmo título. A segunda, [...] com base no já referido romance de Goethe [...] situa nos momentos finais desse clássico [...]. Desta composição, relembro ter ouvido elogios do meu pai. Quando depois de adulto, desejei retornar ao piano. Pedi-lhe que me ajudasse em alguns exercícios, mas ele parecia pouco indisposto, talvez por pensar que iria ocorrer a mesma situação que experienciara quando eu ainda era uma criança. Mas, quem sabe, ao rejeitar a ajuda, ele quis me incentivar a seguir meu próprio caminho. [...]

Um ano depois, duas compilações eram lançadas. A segunda parte, em especial, é composta basicamente de introduções e interlúdios, feitas para outras bandas; Ainda no mesmo ano, era composto "Tu deorum hominumque tyranne Amor!" (Tu, amor, tirano de deuses e homens). Dez faixas de uma música de piano profundamente melancólica e introspectiva. Cada composição retrata um momento especial em minha vida. Tempos difíceis. Fora o término de dois relacionamentos e o nascimento de minha filha. [...]

Em 2009, muitas composições foram criadas. No entanto, um só álbum foi inteiramente composto e gravado: "Dein Leben war für mich ein Beispiel" (Sua vida foi um exemplo para mim). Trata-se de um album em homenagem ao meu pai. [...]

Na medida em que me é possível, tenho feito a divulgação através da Internet e de algumas livrarias, onde disponibilizo meus trabalhos. Também muitos amigos bondosos, e mesmo pessoas que desconheço, estão me ajudando, recomendando minhas músicas a pessoas próximas. Para 2010, tenho vários planos. A criação de dois novos álbuns é um deles. O outro, a elaboração de um trabalho em conjunto, com minha amiga e poetisa Luciana Rocha. E, quem sabe, algum evento em que eu possa participar.

Cabe-me aqui, também, fazer uma pequena reflexão sobre os meus métodos de composição. Dias atrás, uma bela moça americana me escrevia. Dizia admirar o que faço, tendo dito sentir a melancolia das minhas músicas. "Espero", completou ela, "que um dia eu possa tocar tão bem quanto você". Eu a agradeci, de coração, pelas palavras. Disse-lhe que, contudo, não havia segredos no que costumo fazer. Minhas composições são simples e, acredito, qualquer pessoa, com seis meses de prática, terá um desempenho melhor que o meu. A ela, disse que, talvez, minha única receita seja encarar o piano não como um simples instrumento. Como exemplo, contei que quando passo por situações difíceis ou dias felizes, eu o toco. Quando estou quieto, também, com todo o meu coração. Eu me abri com o piano, como talvez não o tivesse ou pudesse fazer com muitos dos meus amigos mais próximos. Há coisas que somente eu e ele sabemos. [...] Escrevi músicas ao início, meio e fim de relacionamentos, na morte do meu pai, no nascimento da minha filha, sob efeito de cartas de amigos (as), leituras, filmes e assim por diante. Se há um segredo, este é o de manter-me próximo do supra-instrumento com o qual eu me abro. A técnica foi apenas um meio que me foi possível conseguir [...].

Para os interessados, deixo aqui meus endereços para contato e, além da página oficial do Lebensessenz, é possível checar alguns dos meus textos.

Por fim, agradeço o convite daquilo que, inicialmente, seria uma entrevista, além da paciência pela longa espera. Também agradeço a todas as pessoas que têm apoiado meu trabalho, ouvindo e me enviando suas impressões a respeito do que faço. Para os interessados, sintam-se à vontade para trocar informações, discutir e filosofar.

E-mail: n_schner@hotmail.com
Website Lebensessenz
Website pessoal


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