domingo, 10 de janeiro de 2010

Pomeranos

Como essa semana se inicia a Festa Pomerana - uma das poucas festas que ainda mantém alguma tradição e não está voltada somente para trazer turistas beberrões e ferristas de outros estados - decidimos falar um pouco do povo pomerano. Essa é a festa mais alemã da região. Espera aí, alemã ou pomerana?

Ao contrário do que muitos pensam, pomeranos não são bem, digamos, alemães. No Brasil são chamados de alemães por serem parecidos etnicamente e culturalmente com alemães, por terem um idioma germânico, e por agirem também de modo semelhante no trato social, sua arquitetura também é semelhante. Além dessas semelhanças, os pomeranos foram expulsos da Polônia ao fim da II Guerra de forma desumana, o que ajudou um pouco no pensamento de que os pomeranos são alemães - até porque, eles utilizavam cidadania alemã por aqui. Outro fator é a ignorância comum dos "países do novo mundo", que acham que todo alemão é loiro e todo loiro é alemão; e como os pomeranos são tipicamente loiros e muito brancos...

Do ponto de vista genético, os pomeranos são aparentados com os poloneses. Os Wendes, povo nômade oriundo do lado oriental, ocuparam a região histórica da Pomerânia ao longo da costa do Mar Báltico entre os rios Oder e Vístula desde o século 6 dC. Os poloneses os ameaçavam constantemente, pois queriam parte da Pomerânia que lhes daria o acesso ao mar. Isso durou até meados do Século XXI, quando os povos germânicos estavam em crescente expansão e coemçaram a se espalhar pela região da Pomerânia. Mesmo sendo eslavos, os pomeranos foram os maiores inimigos dos poloneses, e para garantir seu território e fazer frente aos poloneses, os pomeranos "se entregaram" pacificamente aos povos germânicos, que estavam mais desenvolvidos na agricultura e na guerra, e com isso foram muito influenciados pelos mesmos. Acredita-se que o idioma pomerano, Pommerisch, foi fortemente influenciado pelo alemão, Plattdeutsch.

Com aproximadamente 900 anos de convivência, e certeiros casamentos entre pomeranos e alemães, a maioria dos pomeranos puros ainda conseguiram se manter até os dias de hoje, uma vez que podemos notar que os pomeranos tem traços muito mais bem definidos que os alemães - geralmente são bem mais brancos, são de maioria loira, e embora tenham estaturas parecidas, são mais facilmente reconhecíveis do que os alemães em si.

Como faziam parte do Reino da Prussia, ficaram de vez conhecidos como alemães, mesmo depois quando grande parte do seu território foi anexado à Polônia. Com isso, ao fim da II Guerra a região da Pomerânia, praticamente destruida, foi dividida, sendo que uma pequena parte ficasse com a Alemanha Oriental, e a maior parte com a Polônia. Os poloneses resolveram expulsar os pomeranos do "seu território" de modo cruel, tomando casas e tudo que podiam, fanzendo com que muitos pomeranos fugissem somente com a roupa do corpo e algumas bugigangas. Com isso muitos se instalassem na Alemanha Ocidental, outros procuraram abrigo em colônias germânicas pelo mundo - como Brasil e EUA.

Quando atracaram no Brasil, em meados do Século XIX, assim como os alemães, os pomeranos tiveram os mesmo problemas de adaptação, como sobreviver com carne de pequenas caças, feijão e aipim, até que voltassem a cultivar suas batatas e seu gado, o que demorou muitos anos, já que precisavam pagar as terras que lhes foram cedidas para colonizar, abrir ruas e afastar os índios - no fim, assim como os alemães, também foram enganados, perderam terras e continuavam pobres, mesmo depois de tanto trabalho árduo. Junto com esses problemas, as diferenças entre os católicos e luteranos causaram diversos conflitos e dividiram colônias.

Em alguns lugares, ou algumas famílias, existem certas rixas entre alemães e pomeranos. A maioria delas provenientes de preconceitos que envolvem dinheiro, principalmente aqui no Sul, onde os alemães já se encontravam "fixados" bem antes dos primeiros imigrantes pomeranos, e com isso já possuiam um certo capital. Outro preconceito seria mais cultural, pois os alemães eram um pouco mais instruídos - como exemplo podemos citar que não existe uma grafia oficial do idioma pomerano; e quando isso acontece, normalmente só os pomeranos conseguem ler, mesmo os idiomas sendo rasoavelmente semelhantes quando falados.

De qualquer modo, com culturas muito parecidas, não houveram tantas divisões para que os povos não se entendessem. Em Pomerode, que fica na região de Blumenau - e que na época era uma colônia exclusivamente alemã - deu-se uma certa mistura e pode-se ver que o idioma que predominava entre as famílias era o Plattdeutsch. Creio que devido a isso os pomerodenses sejam considerados tipicamente mais como alemães, mesmo que não geneticamente puros, mas culturalmente assimilados.

A própria Festa Pomerana, de Pomerode, em si, traz muito mais eventos baseados na cultura colonial germânica do que pomerana. Nesse caso, acho que pode ser chamada de "a festa mais alemã do Brasil", assim como afirmam que sua cidade é "a cidade mais alemã do Brasil". Felizmente a Festa Pomerana presa, embora não totalmente, muito mais os bons costumes e a cultura germânica, num ambiente onde não vemos música eletrônica, sertaneja, trilhas sonoras de filmes homossexuais ou "pagodes", não vemos abusos do povo, não vemos sacanagem e até os políciais são alegres por, normalmente, não se incomodarem com os participantes da festa. Esperamos que seja sempre assim, já que a Oktoberfest - até mesmo a de Blumenau, que "se esforça" para manter os costumes - está deixando de ser uma festa germânica.

De qualquer modo, sejam pomeranos ou alemães, ajudaram não só a criar a região, como desenvolveram e consolidaram a mesma. E com isso, são dignos não só de reconhecimento, como também de admiração.
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